
O que a psicologia cognitivo-comportamental (e até a economia, acredite…), diria sobre o “sucesso” das dietas da moda?
No texto da semana passada discorremos sobre comportamento alimentar sob as óticas molecular e molar. Aqui vamos ligar estes ao (in)sucesso das tantas dietas que vemos por aí.
Voltando à visão molecular, esta considera haver uma associação entre as pequenas partes que constituem o evento comportamental. Estas associações dizem respeito a “ligação” entre um comportamento efetuado pelo indivíduo e a recompensa (ou punição) atrelada a este mesmo comportamento. Quando pensamos no ato de comer um bolo, o comportamento de levantar o garfo e leva-lo até a boca, estaria sendo recompensado pelo sabor que este alimento proporciona. Ainda na visão molecular do comportamento, no caso do cheiro do bolo, o comportamento de inalar o odor do alimento, estaria sendo recompensado pelo prazer de sentir o odor em si. Todas essas recompensas (no contexto molecular) estão acontecendo imediatamente ou quase imediatamente após os comportamentos efetuados pelo comedor do bolo, realidade que se aplica a qualquer contexto do comer. Você percebe que os benefícios (ou recompensas) nesse caso são imediatos e concretos? Assim que você efetuar os comportamentos (utilizar o garfo, inalar o cheiro do alimento, passar por uma prateleira de supermercado ou caminhar até um restaurante, cozinhar, etc.), será gratificado imediatamente (ou quase) por tudo aquilo que o alimento lhe proporciona (prazer, saciedade, sabor, afeto, memória e assim por diante). Esta ligação próxima entre comportamento/recompensa (ou punição), própria da visão molecular, é justamente uma relação natural que estabelecemos com o alimento.
Quando a mais esdrúxula dieta é realizada, os benefícios (ou recompensas) esperados, sendo eles fins estéticos ou recomendações médicas, deixam de ser imediatos e passam a ser algo bastante abstrato, intangível. Deixar de comer o bolo (comportamento) para entrar em forma para próximo verão, oferece um benefício muito distante e abstrato (“entrar em forma”) quando comparado àquele de comer o bolo no momento presente. Soma-se a isso, o fato de a pessoa não saber se aquela restrição trará os benefícios esperados. Assim, esse nível de abstração exigido por um benefício que será visto apenas no futuro (se de fato for visto) exige uma visão abrangente do comportamento pelo próprio indivíduo, uma visão do todo, ou seja, uma visão molar do comportamento (que exige muita abstração e é pouco palpável no momento presente no qual estamos diante de um alimento). É preciso lembrar ainda que o comportamento como um todo (visão molar) carrega a ideia de ser construído por uma série de associações de pequenos eventos comportamentais . Tudo isso terá de ser considerado quando se pensa em possíveis gratificações futuras ao se fazer uma dieta, uma vez que irá ter outras interações sociais ao longo do percurso, e a dieta pode ir de encontro a elas. Portanto, em termos cognitivos comportamentais, essa seria mais uma justificativa para o insucesso de uma dieta e para nos mostrar também que as coisas não são meramente uma questão de “força, foco e fé” como vemos por aí nas mídias sociais que “tratam” (como aspas mesmo) de alimentação.
ReferênciasHerman, C. P. & Polivy, J. 2003 Dieting as an exercise in behavioral economics. In Time and decision: economic and psychological perspectives on intertemporal choice (eds G. F. Loewenstein, D. Read & R. F. Baumeister), pp. 459-489. New York, NY: Russell Sage Foundation;
Rachlin, H. A series of books in psychology. Judgment, decision, and choice: A cognitive/behavioral synthesis. New York, NY, US: W H Freeman/Times Books/ Henry Holt & Co. 1989;