
Você sabe por onde estudar e de fato, entender o comportamento (alimentar)?
Recentemente nossa idealizadora Marle Alvarenga fez um vídeo sobre o que os livro “Nutrição Comportamental”, “Ciência do Comportamento alimentar” e “Comporte-se” tem em comum. Se você não assistiu clique aqui e assista.
Em suma ela destacou os pontos em comum destas obras, incluindo o fato de que todas elas apontam os problemas da restrição alimentar, além de entenderem o comportamento como algo multicausal (sumarizado na sequência) – mas é bom também destacar as diferenças que são centrais, para entender comportamento alimentar, esclarecer confusões e encerrar distorções.
Entendendo o Comportamento alimentar e por quais livros estudar?
O livro Comporte-se foi escrito pelo neurocientista americano Robert Sapolski em 20171 e teve sua versão para Português em 20212. Sapolsky é um primatólogo e neurobiólogo que estuda e prova que a primeira explicação para o comportamento é neurobiológica, ou seja, o que se passa no cérebro.
No livro ele usa mais a premissa da violência para esta discussão: o que explicaria um ato de violência, agressividade? E segue então ao longo do livro (com 815 páginas em sua versão em Português!) discorrendo sobre fatores de causação.
O raciocínio é bem interessante:
- O que se passou no cérebro desta pessoa (que cometeu o ato de violência) um segundo antes? Para falar do córtex cerebral e seus papéis, seguido por: que visão, som, cheiro ativaram o sistema nervoso segundos ou minutos antes?
- Quais hormônios agiram durante as horas ou dias anteriores para ativar ou não a resposta comportamental?
- Quais aspectos ambientais modificaram a estrutura e função do cérebro desta pessoa (nas semanas ou anos antes), para que ela responda aos hormônios e estímulos de determinada maneira?
- Como foi o desenvolvimento infantil desta pessoa? E o desenvolvimento fetal? Sua genética e fatores epigenéticos?
- Como a cultura delineou este comportamento? Quais fatores ecológicos moldaram esta cultura?
Assim, o livro tem uma mensagem clara de como os comportamentos são multicausados, como o autor coloca: “não faz nenhum sentido fazer uma distinção entre os aspectos de um comportamento que são “biológicos” e os que seriam descritos como, digamos “psicológicos” ou “culturais”. Ambos se entrelaçam por completo.” 2
Escrevemos o livro Ciência do Comportamento alimentar3 sem ter lido ainda o livro de Sapolski e é uma alegria ver como a premissa aqui usada, do modelo de multicausação de Skinner e das 4 causas Aristotélicas se comunicam com o “passo a passo” no tempo do “Comporte-se”.
O modelo de Skinner fala dos níveis filogenético – de nossa espécie; ontogenético – do aprendizado; e da cultura para a determinação de um comportamento. E de forma, ainda mais alinhada com Sapolski, nós introduzimos ao modelo a epigenética como uma “costura” a estes três níveis.
Nada disto é exatamente novíssimo, porque Aristóteles já falava que tudo tem pelo menos 4 causas: a material (do que é feito), a formal (o que dá forma), a eficiente (o que faz), a final (para que serve).
Assim, trouxemos para este livro de forma pioneira, uma discussão ampliada sobre as causas do comportamento ALIMENTAR, porque “Comporte-se” é um livro incrível (denso e incrível), mas não é sobre comportamento alimentar; o “passo a passo” proposto por Sapolsky pode ser pensado sim neste sentido, mas o autor não leva para esta área.
Ainda antes destes 2 livros mencionados, nós escrevemos o Nutrição Comportamental4 que não é um livro sobre comportamento como um todo, mas que foca em algumas partes do comportamento alimentar. Não tínhamos em 2014 (quando escrevemos a 1a edição, publicada em 2015) 4 conhecimento das 4 causas de Aristóteles, nem do modelo de Skinner (que bom que seguimos estudando!) e nem Sapolski havia escrito sua obra.
Mas neste livro seminal, nós trouxemos para nutricionistas a importância do foco do comportamento alimentar no atendimento, deixando claro que este é multideterminado, citando alguns modelos conceituais de determinantes do comportamento alimentar.5
Portanto, ao seu tempo e modo, as três obras têm em uníssono o fato de que nada explica isoladamente um comportamento, inclusive os alimentares – que podem ser entendidos de forma a ajudar a prática de atendimento – o que é mais o foco do “Nutrição Comportamental” ou isto somado à ciência – como é o caso do “Ciência do Comportamento alimentar”.
O que os três livros tem em comum?
Todos estes livros podem ajudar a entender o comportamento alimentar, mas:
– “Comporte-se” e “Ciência do Comportamento alimentar” NÃO SÃO livros de Nutrição Comportamental! Assim como nenhum outro além do “Nutrição Comportamental” que publicamos pela Ed. Manole!5
Nutrição Comportamental não é uma área, ou linha, ou especialidade –
como escrevemos no livro desde sempre; e sim uma ABORDAGEM,
proposta pelo Instituto Nutrição Comportamental® com
definição, missão, premissas e pilares próprios.
Outros livros, erroneamente citados as vezes como sendo de “nutrição comportamental” podem até ser sobre comportamento (mas veja bem, porque muitos acham que sabem sobre comportamento, porém sequer o definem adequadamente), podem ser sobre tratamento sem dieta, nutrição humanizada. Mas NÃO SÃO sobre Nutrição Comportamental!
Novamente, o “Comporte-se” é um grande livro sobre comportamento em geral e é preciso entender cada vez mais sobre isto para entender as questões do comportamento alimentar. O “Ciência do Comportamento alimentar” é sim sobre comportamento como algo multicausado, com amplos antecedentes e consequentes e com uma discussão para clínica e pesquisa focando a parte alimentar do comportamento. E o “Nutrição Comportamental” é o livro que apresenta esta abordagem única, com foco nas teorias, modelos e ferramentas para que o nutricionista possa trabalhar com foco em mudança de comportamento alimentar.
Similaridades e diferenças precisam ser, portanto, compreendidas para que nosso estudo seja realmente sério, sem preconceitos e afirmações errôneas. Há uma ciência do comportamento, que não tem como ser distorcida por premissas próprias e é ela que baseia a Ciência do comportamento alimentar.
Há uma história e definição para a abordagem Nutrição Comportamental que não pode ser definida de forma diferente do que foi publicada. Se alguém pensa que o comportamento alimentar possa ser pensado e trabalhado de outra forma, terá que encontrar – e provar – com bases cientificas sólidas quais são as suas premissas
Mas duvidamos que alguém vá além de Sapolski!
Referências:
- Sapolsky MR. Behave: The Biology of Humans at Our Best and Worst. Penguin Press, 2017.
- Sapolsky Mr. Comporte-se. A biologia humana em nosso melhor e pior. Cia das letras, 2021.
- Alvarenga M, Dahás L, Moraes C. Ciência do Comportamento Alimentar. Santana de Parnaíba: Manole, 2021.
- Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Antonaccio CMA. Nutrição Comportamental. São Paulo: Manole, 2015.
- Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Antonaccio CMA. Nutrição Comportamental. 2° ed ampliada e revisada. São Paulo: Manole, 2019.
- Alvarenga, Koritar P, Moraes JM. Atitude e comportamento alimentar – determinantes de escolhas e consumo. IN: Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Antonaccio CMA. Nutrição Comportamental. 2° ed. São Paulo: Manole, 2019. pp
Por Nutrição Comportamental