O que a psicologia cognitivo-comportamental (e até a economia, acredite…), diria sobre o “sucesso” das dietas da moda?
”Escolha alimentar: uma questão de julgamentos, decisões e escolhas”
Apesar de em grande parte das vezes, julgamentos, decisões e escolhas serem considerados a mesma coisa, cada um dos termos guarda uma distinção importante no campo da psicologia cognitivo-comportamental. Brevemente, ao pensarmos em julgamentos, estamos pensando em probabilidades que estabelecemos dentro de nós (mesmo sem perceber) que nos dão uma estimativa sobre algo. Nesse processo de julgar, é comum incorrermos em “erros” de julgamento, os chamados vieses. Isso acontece, não por ser este um defeito humano), mas porque ao longo de nossa evolução, pensar de maneira mais eficiente (mas não necessariamente mais eficaz!), nos ajudou a resolver questões que precisavam ser resolvidas rapidamente. Mas para a realidade contemporânea, estes julgamentos podem não ser mais tão úteis assim, parte deles pelo menos. Na alimentação, por exemplo, julgar alguém que precisa comer um chocolate todos os dias após o almoço, dizendo que esta pessoa não tem força de vontade, é um exemplo clássico de viés de julgamento, no qual se dá um atributo ao indivíduo apenas pelo fato do ato “comer chocolate”. Ou ainda, julgarmos as pessoas com relação a “preguiça e falta de foco”, apenas pela forma e tamanho de seus corpos. Julgamentos, portanto, estão bastante ligados aos preconceitos. Já as decisões estão ligadas a tomar um caminho frente a duas ou mais situações possíveis, cada qual com uma probabilidade de sucesso ou fracasso particular. Em outras palavras, decidir diz respeito a optar pelos caminhos que lhe são apresentados na vida, tendo cada um deles suas vantagens e desvantagens. No contexto alimentar, decidir por frutas ou creme de leite com frutas seria uma decisão possível, cada uma com suas vantagens e desvantagens.. Dentro de uma perspectiva mais cognitivista, as decisões (e também os julgamentos) muito estão ligados às representações internas que temos das coisas a partir de regras construídas ao longo de nosso histórico de comportamentos. Mas representações internas (decisões ou julgamentos), não representam efetivar de fato um comportamento ou seja, por serem representações internas, decisões (e/ou julgamentos) estão mais dentro de nós do que fora, no ambiente. Nossas representações internas dependem de uma visão mais molar do comportamento, ou seja, de um histórico de comportamentos passados, do “todo”. Este histórico por sua vez, é justamente constituído pela associação (ou contingências, em termos behavioristas) entre comportamentos realizados (denominados de escolhas) e suas gratificações (ou punições) que recebemos ao longo da vida. Não gostar de vegetais hoje, pode ser fruto, por exemplo, de uma série de associações que se estabeleceram ao longo da vida (que podem envolver momentos não tão gratificantes assim). Portanto, estes comportamentos que manifestamos -escolhas – são observáveis, e se associam a gratificações (ou punições).
A ideia de associação entre comportamento realizado e gratificação (ou punição), está ligada a uma visão mais molecular do comportamento, uma visão da interação entre as pequenas partes (comportamento + gratificação/punição) que vão acontecendo ao longo de nossa vida. A ideia dessa associação guarda uma perspectiva behaviorista, que é a ideia que mencionamos nos textos anteriores sobre escolher um pedaço de bolo, mordê-lo e receber a gratificação correspondente, por exemplo, sentir o sabor do bolo.
Nesse ponto temos uma junção entre as ideias cognitiva e comportamental (behaviorista). Em uma visão behaviorista, nossas experiências presentes são associações entre gratificações (ou punições) e aquilo que escolhemos (aos comportamentos) em nosso mundo. Em uma visão cognitivista, o conjunto dessas associações ao longo do tempo moldam nossa história. Esse histórico por sua vez, nos sãos apresentados como regras, as quais estarão presentes em nossas representações internas das coisas e que nos darão suporte para decidirmos (e julgarmos) e a partir disso escolhermos novamente no presente.
Trazendo para o contexto de comportamentos alimentares, podemos entender que julgar, decidir e escolher por alimentos ou ainda, pensar em mudanças de comportamento alimentar, são caminhos que exigem um respeito bastante considerável pelos profissionais da saúde para com indivíduos e grupos. Digo respeito, por ser este um processo que envolve compreender as associações entre escolhas alimentares e suas gratificações, e isso é pessoal e íntimo para cada pessoa. Além disso, ao longo do tempo, essas associações entre comportamentos e alimentos se tornaram parte da história dos indivíduos, o que em última análise, também é parte da identidade de cada um.
Referências
Rachlin, H. A series of books in psychology. Judgment, decision, and choice: A cognitive/behavioral synthesis. New York, NY, US: W H Freeman/Times Books/ Henry Holt & Co. 1989;